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quarta-feira, 19 de setembro de 2007

O que rolou no "Indie ou Morte!" 2007


O Festival Independente ou Morte!, desse ano prometia pelas novas bandas que se apresentariam. É bem certo que o envolvimento ainda não é o mesmo do maior festival do Sindicato do Rock (Caipiro Rock). Só pra quem não sabe a história. O Independente ou Morte!, teve sua primeira edição em 1998. Tratava-se apenas de um encontro de bandas independentes. Os anos passaram, montamos o CECAC, e as propostas do evento passou a ter a cara do nosso projeto. Mais uma vez, pra quem não conhece a nossa história: em 2005, um movimento de rock independente que já existia desde 1996, o Sindicato do Rock, passou a expandir seu campo de atuação com a ocupação e fundação do Centro de Cultura e Ativismo Caipira (CECAC). Tem cara de ONG mas não é. Podemos chamar o CECAC de um centro social autogerido. Temos por aqui música independente, oficinas de arte, cooperativa de bandas, biblioteca, aulas de instrumentos musicais de graça, grupo teatral entre outras coisas. Com a fundação do CECAC, os eventos do S.D.R. passaram a ser mais que uma noite de rock. Elaboramos uma agenda anual e cada evento tem uma temática “central”. Dado o tema, o evento então passa a oferecer formas de manifestação além da música. Para darmos um exemplo vamos direto ao Independente ou Morte!.
A primeira edição do Indie ou Morte!, repetindo, foi em 98, e tratava-se só de um encontro de bandas. Quando foi criado o CECAC, o festival já ganhou um contexto maior. Em 2005, o I.M. foi em três dias e focou na discussão de mídia independente. Foi realizada oficina e exposição de fanzines, apresentação de bandas, apresentação de filmes (incluindo “Uma Onda no Ar”, sobre a Rádio Favela de BH-MG) e um bate-papo com um grupo de adolescentes que editavam um jornal livre dentro de uma escola de Serrana.
Em 2006, o I.M, trabalhou a questão do Voto Nulo e a democracia representativa. Foi realizado o intercâmbio com um grupo ativista do ABC conhecido como Casa do Ativismo ABC. Além dos debates e discussões, foi apresentado uma peça teatral do CECAC, vídeos, exposição e bandas ao vivo.
Bom, chegamos em 2007, e mais uma vez o Festival ganhou um tema central que dessa fez foi a cena musical independente em si. Foram três dias de música livre e com atividades das mais variadas possíveis. Tivemos bate-papos, futebol, cachoeiras, pizzas, oficina de fanzine, cervejas, tamarindos... Relataremos então passo a passo como foi:


Dia 07/09 – sexta-feira
Na sexta-feira de feriado nacional o som começou com as meninas serranenses do AA (Alteradamente Alcoólicas). Banda formada dentro do projeto CECAC e que faz um rock simples, verdim. Com letras em português que falam da marvada e de correrias cotidianas. Mas simultâneo a isso, no salão de entrada do CECAC, papeis picados, colas, tesouras, maquina de escrever e muitas idéias, faziam parte da zona de idéias da oficina de fanzine (uma das proposta do festival). Instantaneamente foi elaborado um fanzine durante o festival. Todos participaram e o resultado foi tão honesto que deu até aquele orgulho dessa molecada toda.
Com a fábrica de zines ainda em funcionamento os mineiros entraram no palco (palco?). é bem verdade que eles esqueceram de trazer pão de queijo, mas o barulho não faltou. Gente do céu!! Essa minerada sabe mesmo fazer um rock simples e cru. A banda mais bizarra dos últimos anos cantou melodias com letras irônicas, melancólicas e raivosas. Estamos falando do UDJC. Não me pergunte o que significa na real. Só sabemos que pra gente significou rock dos bão! Zezinho (guitarrista, poeta e maluco – mesmo), fez barbaridades com seus dedos magros. Depois tivemos outra banda de Guaxupê, o Breckneck. Trash metal mas muito, muito bem tocado. Que raiva amizade!!! Muito bom mesmo. E o guitar era o mesmo doido do UDJC. Daí ce já viu nê? Os bate-cabeças foram a loucura mesmo. Sabe que depois do som ainda houve uma tentativa de futebol com os mineiros? Mas o que vimos foi mais bizzaro que o som dos caras.
A noite terminou com remessas de pizzas e os nossos novos amigos da banda Visitantes e do projeto Escárnio & Osso de São Paulo, chegando de viagem e compartilhando conosco do jantarzinho.

Dia 08/09 – sábado
Bom, pra não perder o costume o sabadão começou com um café forte e o desafio boleiro. O time do parquim, Zé Rodão Contra a Rapa F.C., enfrentou os destemidos atletas dos Escárnio & Osso F.C., que entraram com o uniforme de visitantes (sem camisa). O jogo foi bem apertado... O placar foi 12 X 09 pros caipiras.
De noitinha, depois dos paulistanos terem se banhado nas magras águas das cachoeiras serranenses, o festival recomeçou com uma reuniões do pessoal do Público Rock, grupo que agita e trama uma construção democrática da cena musical indie. Recebemos um pessoal de Franca a banda The Pop Flag, uma turma da rádio USFCAR de São Carlos, pessoas de Araraquara e outros picos. O som da noite começou com a banda de várzea Íbis. Jogando em casa sobrou agitação. Gritos, coros, cantos de incentivo. Tecladinho fazendo a frente e muita diversão mesmo... nos intervalos o público cantava a canção: Grandola Vila Morena e o clássico João Batera. Foi emocionante.
Os Visitantes entraram em seguida. Puta sonzera e energia desses malucos. Guitarradas. Canções que te levam a pensar em sentimentos profundos. Só que de repente: gritos e barulhos. Que legal que foi a visita deles por aqui... não nos esqueceremos de toda essa paixão doida.
Mais de noite ainda teve um terceiro tempo e foi os francanos do TheFlag Pop que iniciaram seu barulho retro com três guitarras na “palco”. Meu amigo! Outra revelação. Rock tocado da forma mais simples e melodias pops. Nome bem acertado viu. O interiorzão está cheio de cabra roqueiro!!!
Lembrando que aquele fanzine montado no primeiro dia do festival estava já xeroxado e sendo distribuído ao público.

Dia 09/09 – domingo
O domingo também foi mais um dia de intenso calor e rock. Uma nova banda de Serrana abriu o dia com um som totalmente livre. É o Plug in/out. As músicas instrumentais tocadas instintivamente. Não teve pausa. Foram do inicio ao fim num só bloco sonoro...
Depois dos barulhentos caipiras tivemos outros barulhentos caipiras. A banda de Ribeirão Preto, Berrodúbio. Muito bom. O que chamou atenção foi os vários instrumentos de percussão que usam durante as músicas. Num dado momento tivemos moda de viola em meio ao caos sonoro. Sim, viola caipira!!!
Nessa hora eu tava num olho no peixe e outro no gato. Escutando e admirando os meninos do berro dúbio e silcando camisetas do festival pra cambada. Mas não era só eu que estava curtindo “trabalhando” não. Marcelo e Ana da turma do Escárnio & Osso, fizeram algumas obras artísticas no espaço do CECAC. Nasceu até uma árvore lá no bar de arrake.
Bom, depois veio mais uma banda nova em Serrana, o Espaço em Branco. Punk hard core com ska. Letras muito bem sacadas mesmo. Mais uma banda honesta de Ribeirão. O som estava muito alto essa hora e muitos preferiram sair do salão e dar um tempo pros ouvidos. Mas ainda não havia terminado.
A última banda do Indie ou Morte!, foi o Dias Mortos. Também de Serrana, apresentaram sons próprios bem elaborados e escritos. É a mesma banda que fez todo mundo entrar na quadrilha hard core no Caipiro Rock desse ano. Vida longa aos Dias Mortos.
O saldo desse festival foi incrível pra nós todos do Sindicato/CECAC. Conhecemos muitas bandas maravilhosas e o que é melhor, pessoas também. A minerada que ficou com a gente os três dias. Os paulistanos também. Ficaram em Serrana e vivenciaram o que somos mesmo. Brigas, lágrimas, calor do clima, calor humano, bagunça, idéias etc, etc, etc. Mais uma estrela no peito da camisa do CECAC. Mais um título pro parquim. Mais um final de semana pra gente não se esquecer.

Ricardo Brasileiro